Os brasileiros não conseguem mais ler
Vi uma reação curiosa de algumas pessoas na internet diante de certos textos escritos — não apenas por mim, mas por outras pessoas também — e, claro, acabei refletindo sobre isso tudo.
Mas, antes de falar sobre o que de fato observei, acredito que seja uma boa oportunidade para explicar um pouco mais sobre como exatamente tenho feito esses meus textos, afinal, isso se conecta diretamente com o que percebi.
Minha motivação
Não é de hoje que gosto de escrever. Porém, nos últimos meses, tenho sentido ainda mais vontade de registrar meus pensamentos e reflexões por meio desse formato de texto mais “longo”, no qual vou discorrendo de forma cronológica até chegar à linha de raciocínio que pretendo.
Esse tipo de escrita não faço pensando exclusivamente nos “leitores”, afinal, em primeiro lugar, escrevo para mim mesmo. Assim, se eu pegar um texto desses no futuro, consigo acompanhar corretamente o fluxo das ideias que tive enquanto escrevia. Portanto, escrever para mim mesmo não é algo “arrogante” de afirmar, já que minha intenção é usar esse espaço pessoal para meu próprio entretenimento, com o benefício de também compartilhar essas coisas com amigos e pessoas da internet em geral.
Além disso, não tenho temas específicos. Escrevo sobre tudo o que penso — afinal, todos nós, como bons humanos, estamos sempre pensando sobre tudo.
Meu processo de escrita
Não posso dizer que já tenho um método de escrita “fixo”. Na verdade, escrever é algo que ainda estou aprendendo. Tanto é que, se pegarmos meus primeiros textos publicados aqui, veremos que eram bem menos estruturados, com pouca coesão e poucos detalhes.
Este texto de hoje não está perfeito, mas já está ordens de grandeza melhor do que os que eu escrevia há alguns meses. Minha habilidade de escrita vem sendo aprimorada a cada texto, e isso me anima, pois gosto muito de aprender.
De qualquer forma, independentemente do meu nível de escrita, gosto de sempre partir de uma reflexão. Todo texto que escrevo aqui nasce de algo sobre o qual fiquei pensando durante o dia. Às vezes a ideia do texto inteiro fica muito clara na minha mente, e consigo escrever tudo muito rápido.
E aqui vale um pequeno parêntese: eu gosto muito de digitar. No momento, estou usando um teclado mecânico — não é nada estupendo ou caro, mas tem uma sensação de digitação muito boa, o que me dá ainda mais satisfação ao escrever. E, claro, de tanto escrever (tanto textos quanto códigos), minha velocidade de digitação está bem aceitável. Ou seja, quando tenho uma ideia na cabeça, consigo digitá-la tranquilamente, sem tanto esforço ou necessidade de olhar para o teclado.
Sendo assim, partindo de uma ideia e de uma reflexão, consigo sentar, conectar meu teclado ao celular ou computador e simplesmente digitar. Entretanto, meu “processo” de escrita não se resume a isso.
Depois de terminar um texto, normalmente leio-o do início ao fim. Nessa leitura, verifico se o texto está coeso, se há repetição excessiva de palavras e se a ideia que eu queria registrar inicialmente está realmente visível. Essa é a revisão pessoal que faço sobre o que escrevi.
Tendo feito isso, vem uma etapa interessante — e talvez valha uma pequena tangente específica para ela.
A tecnologia e a comodidade
Algo que vocês vão entender facilmente é o uso das chamadas “inteligências artificiais” nesse processo. Sim, eu uso IA na minha escrita. Mas, para ser justo comigo mesmo, é preciso entender como isso se encaixa de forma real.
Minha ideia com a IA é realizar o que chamo de “segunda revisão”. Se a primeira revisão é minha própria leitura, a segunda é feita pela IA. Porém, se eu simplesmente colar meu texto e escrever um prompt muito vago ou amplo, a IA tende a modificar demais o texto — alterando nuances e sentidos específicos que quis deixar.
Nesse caso, a ideia não é pedir que a IA reescreva o texto, mas que corrija problemas de ortografia, gramática, coesão, sintaxe e pontuação, mantendo meu estilo.
Portanto, sim — por mais que eu escreva bem e com poucos erros gritantes — ainda cometo deslizes de digitação, especialmente por digitar rápido e só reler o texto completo depois de terminar. É natural que isso gere pequenos erros, e nesse ponto a IA é uma excelente ferramenta para ajudar.
Consequentemente, dependendo do prompt, o resultado que a IA entrega é um texto muito mais polido: o mesmo texto que escrevi, sem alterações de estilo, mas com excelente formatação, períodos bem definidos e parágrafos aprimorados. Muitos benefícios, de fato.
E pra ilustrar isso de forma prática, vou deixar escrito aqui um prompt o qual eu sempre obtenho excelentes resultados para os meua textos. Talvez possa ser útil para alguém também:
“Pegue o seguinte texto e faça uma revisão da gramática, ortografia, sintaxe, pontuação, formatação. Ou seja, quero que analise a escrita e depois corrija o que for necessário sem mudar o estilo ou o sentido. Busque remover vícios de linguagem, pleonasmos, palavras repetidas de mais que estejam muito próximas (caso necessário).”
Esse prompt é bem básico, mas ele pode gerar textos bem mais rebuscados, a partir do seu texto de entrada. Vale a pena experimentar.
A recepção das pessoas
Certo. Agora que já expliquei meu “procedimento” para escrever, podemos falar sobre o que as pessoas acham do que publico aqui.
Sem me alongar muito: não recebo muitas opiniões sobre isso. Não acredito que muitas pessoas leiam todos os meus textos na íntegra a ponto de formarem opiniões bem fundamentadas para compartilhar comigo — mesmo as mais próximas. Claro que, vez ou outra, alguém comenta algo sobre o tema do texto.
Essa “falta de feedback” não é um problema, afinal, como eu disse, minha principal motivação é a satisfação pessoal. Qualquer retorno positivo além disso é lucro.
Porém, o que não costumo compartilhar tanto é que muitas vezes aproveito algumas oportunidades para escrever comentários em posts que aparecem nos famigerados feeds.
Dependendo do conteúdo, às vezes me aventuro na seção de comentários para ver o que as pessoas têm escrito por lá. Então decido se escrevo algo ou respondo alguém.
Até aqui, nada de novo. É algo comum — muitos de vocês com certeza fazem isso.
A questão é que, ao interagir na internet, o estilo de escrita parece “mudar”. É como se o formato ideal de um comentário fosse obrigatoriamente curto, com no máximo 15 palavras, tom de autoridade e fechado em si mesmo.
Eu até poderia dizer que é um estilo de “mitar”, como há uns 10 anos, quando entrávamos na seção de uma antiga página chamada Fatos Desconhecidos, onde parecia haver uma disputa para ver quem conseguiria “mitar” — ou seja, escrever a melhor frase de efeito e receber mais curtidas. Certamente muitas daquelas pessoas eram minhas contemporâneas e hoje perpetuam esse estilo de escrita na internet, mesmo que a “brincadeira” de mitar já não exista mais.
Esse formato acabou sendo facilmente aceito pela internet, afinal, tanto esse estilo de escrita quanto os “vídeos curtos” são exemplos de conteúdos fáceis de consumir. Ninguém tem dificuldade em entender uma “mitada” em uma frase de efeito sob um vídeo de 8 segundos. É rápido, digerível e logo vem o próximo.
Não estou necessariamente criticando esse modelo. Obviamente tenho minhas ressalvas e observações, mas essas ficam para outro texto. Também não quero dizer que uma seção de comentários deva conter textos da magnitude deste que estou escrevendo — certamente seria inviável.
Minha observação aqui é justamente sobre o fato de que, se um comentário tem mais de um parágrafo, automaticamente surgem os críticos virtuais prontos para atacar o tamanho do texto, e não o conteúdo.
Definitivamente, não conseguem ler
Nos últimos dias houve uma certa polêmica bastante comentada na internet: uma possível reformulação no sistema de habilitação de motoristas aqui no Brasil. De forma bem resumida, o governo está levando adiante uma discussão sobre acabar com a obrigatoriedade de os cidadãos fazerem horas de aulas teóricas e práticas para poderem realizar o teste em si.
Certamente, minha ideia neste texto de hoje não é discutir esse tema em específico. O ponto é que eu digitei, em formato de um texto de uns cinco parágrafos, um comentário em um vídeo que falava sobre o assunto.
Minha intenção ao escrever esse “mini-texto” foi justamente expressar uma opinião e visão pessoais nos comentários, mas de forma clara, sem ambiguidade ou margem para dúvida sobre o que eu quis dizer.
E, claro, para esse pequeno comentário, aproveitei e apliquei o meu “processo” descrito anteriormente — com a intenção de torná-lo mais agradável e legível para os leitores virtuais.
Mas, como bem sabemos, o ser humano muitas vezes não se importa com nada. Mesmo que várias pessoas tenham gostado da forma como apresentei minha argumentação, apareceram alguns sujeitos para escarnecer o que eu escrevi. E não criticaram o conteúdo, e sim o estilo.
Sim — me “acusaram” de ter gerado o texto em um ChatGPT da vida. Riram e zombaram.
Minha reação, inevitavelmente, foi parar e refletir sobre o quão “impressionante” aquilo foi.
No fim, a conclusão sobre eles foi simples: nem sequer leram. Apenas bateram o olho em algo com mais de duas linhas e automaticamente rejeitaram a ideia de interagir de forma positiva com o conteúdo.
Mas… o que esperar disso tudo?
Tempos sombrios
“Tempos sombrios”… É a ideia que me vem à mente quando penso e reflito sobre esse pequeno fato. A justificativa é simples: não consigo caracterizar de outra forma um lugar onde sequer um comentário de algumas linhas escapa da maldita polarização.
Isso realmente me cansa. E, para ser bem sincero, tenho considerado cada vez mais evitar — ou até mesmo abdicar completamente — do uso da internet, ou pelo menos das tais “redes sociais”.
É um exercício que desgasta, algo que me consome. É, definitivamente, um ciclo ridículo: acessar as plataformas e ver pessoas desperdiçando tempo precioso com todo e qualquer tipo de inutilidade.
Fica ainda pior quando paramos para analisar e percebemos que, quanto mais esse tipo de coisa se perpetua, mais os problemas reais continuam existindo.
Pense um pouco — algo muito fácil de entender: hoje, no Brasil, os índices de saneamento básico sequer atingem o mínimo aceitável, enquanto as pessoas fazem inimigos e desperdiçam tempo com tópicos totalmente distantes da nossa realidade, ou mesmo com uma defesa ridícula de políticos e/ou ideologias.
Agora, experimente falar disso abertamente. Você estará totalmente suscetível a ser até mesmo denunciado nas plataformas digitais.
Essas plataformas, por sua vez, acatam quase toda e qualquer “denúncia” feita — sobretudo quando em massa. Afinal, hoje elas são responsabilizadas pelo que as pessoas publicam e podem ser penalizadas sem sequer haver um procedimento judicial, caso não tomem as medidas “necessárias”.
Um mero comentário pode gerar reações totalmente extremas. Mas não há como lutar contra isso, afinal, estamos numa “democraçia”.
O que temos pra hoje
De qualquer maneira, isso tudo é o clássico tipo de coisa sobre a qual não temos controle. Logo, não vale nosso empenho, nem mesmo nossa ansiedade. Não me importo com as atitudes das pessoas na internet — ainda mais em relação aos meus conteúdos.
Porém, não consegui deixar de refletir depois de ver alguém agindo daquela forma. Achei muito curiosa esse tipo de reação.
Certamente vou continuar escrevendo, mesmo que um dia eu saia da internet. Talvez seja até melhor assim, já que meus pensamentos serão totalmente originais e livres da contaminação externa de conteúdos rasos.
Nos meus próximos textos quero escrever sobre temas mais alegres e positivos — talvez sobre meu processo de mudança de estado e as implicações em torno disso. Fiquem ligados!