Qual o sentido da vida?
Esse é aquele tipo de pergunta “clichê”, mas… sabe de uma coisa? Ultimamente tenho afirmado o seguinte: clichês são exatamente o que são justamente por serem constatações muito justas sobre algum tema. Não seria diferente com o ato de a gente se perguntar sobre o sentido da vida também.
E, falando nisso: qual é a minha motivação em escrever sobre esse tema?
Alguém poderia dizer que eu estou querendo forçar e dar uma de “filósofo”, mas a real é que, por mais que possa ser um pouco disso aí, eu definitivamente tenho me deparado com essa reflexão de algumas formas — tanto aplicando-a na minha vida pessoal quanto observando alguns aspectos evidenciados nas vidas de outras pessoas.
Sendo assim, o que devemos esperar de resposta para essa pergunta? O que exatamente representa um “sentido” para o ato de viver?
A origem da vida
Acredito que, se a gente tenta pensar sobre coisas tão fundamentais como essas, obrigatoriamente devemos partir das definições de coisas ainda mais fundamentais, como, por exemplo, o que raios é “vida”? De onde essa vida surgiu?
É certo que, muitas vezes, perguntas assim tratam de coisas tão basais e fundamentais que a própria definição delas existe apenas nelas mesmas. Isso não impede, porém, que a gente escreva definições linguísticas de tais termos. Mas perceba a sutileza aqui: mesmo com uma definição sobre algo fundamental, ainda assim não é possível que a gente consiga realmente entender certas coisas.
Vamos pegar a própria vida, por exemplo. Podemos tentar descrever “vida” como sendo algo dotado da capacidade de ter noção da própria existência, ou também poderíamos definir como “vivo” aquele ser que é capaz de manter sua existência de forma quase que perpétua, por meio da reprodução de si mesmo.
Porém, como um paradoxo, a gente sabe da existência de estruturas microscópicas chamadas vírus. Literalmente, essas estruturas não demonstram nenhum tipo de autociência a respeito de suas próprias existências e, ao mesmo tempo, conseguem definitivamente manter-se neste mundo por meio da reprodução (ou replicação, como normalmente se diz no caso dos vírus).
Perceba o limiar das definições e veja como existem coisas que podem ou não se aplicar a elas. Talvez, se não conhecêssemos ou soubéssemos da existência dos vírus nos dias de hoje, certamente as definições que mostrei antes seriam completas por si mesmas — o que não é verdade depois do nosso entendimento atual sobre os vírus.
Isso é, portanto, uma forma que temos de refletir sobre o que é, ou mesmo sobre como exatamente surgiu, a vida.
Discutir a origem da vida é algo estimulante, desde que não haja vieses pessoais ou ideológicos nesse tipo de discussão. Afinal, sendo um tema aberto por si só, toda e qualquer opinião pessoal sobre isso não levaria a nenhuma conclusão prática; pelo contrário, poderia gerar ainda mais questionamentos que também não seriam solucionados por si mesmos.
De qualquer maneira, temos duas formas de pensar sobre a origem da vida: uma que engloba aspectos físicos e outra que engloba aspectos abstratos.
E a parte interessante é que, pelo menos na minha visão, independentemente do caminho que se toma para pensar na origem da vida, a vida continua sendo o que é: apenas vida.
Sim, não importa se você segue pelo caminho da origem da vida através da aleatoriedade ou da permissão divina, no fundo, a vida será… vida.
O fim da vida
Ok, parece estranho falar sobre isso. Mas, muitas vezes, quando se discute sobre a vida em si, pouco se fala sobre seu fim. Talvez isso aconteça justamente pelo fato de que o fim da vida é algo que pode apavorar qualquer um que comece a pensar profundamente sobre o tema. Acredito que poucas pessoas, em sã consciência, desejem o fim da possibilidade de estarem vislumbrando a vida, por mais crentes na aleatoriedade que sejam.
Mas trago esse ponto aqui na minha reflexão justamente porque vejo que o ato de não pensar no fim da vida — ou mesmo o ato de evitar pensar sobre ele — pode fazer com que as pessoas tenham vidas não tão completas. Ou melhor: ignorar a importância de pensar no fim da vida pode levar as pessoas a deixarem de dar a devida importância ao próprio período de vida.
Parece confuso de entender, eu sei, mas, nas minhas reflexões pessoais, eu sempre penso que, se minha vida tende a finalizar algum dia, com certeza o meu trajeto até esse fim é o que poderá dar o tal sentido à minha própria vida.
No fim, não importa
Como assim? No final da vida não importa o que foi feito? Quer dizer que alguém pode fazer o que bem entender e depois simplesmente “morrer” e pronto?
Claro que não. Devemos ter cuidado com esse tipo de questionamento ou mesmo com certas conclusões. Trago esse tópico aqui justamente para mostrar que, às vezes, podemos concluir de forma errônea muitas coisas.
Por exemplo, o fato de que, no final, “não importa” quer dizer que não importa se você passou sua vida inteira tentando realizar um sonho ou se passou a vida inteira fazendo apenas pequenas coisas. Logo, se sua vida se encerra ali, definitivamente não vai importar o que você fez.
Claro que vale um disclaimer aqui novamente sobre esse tópico: não deve existir nenhum tipo de encorajamento a se fazer coisas prejudiciais a outras pessoas ou sequer a si mesmo por considerar que “no fim, não importa”.
Além disso, o futuro de alguém após a morte também é uma daquelas questões controversas de definição que mencionei no início. Nunca haverá um consenso, por mais convicção que alguém tenha ao falar desse tipo de coisa. Não quero me aprofundar nesse tópico aqui — afinal, ele por si só já renderia outro texto inteiro.
O ponto é que, se você deseja entender o sentido da vida, permita-se compreender toda a magnitude do início, meio e fim de tal vida. E, como já demonstrado, o fim da vida vai acontecer, independentemente da sua origem e trajetória.
Mas o que podemos entender sobre o “meio” da vida?
Não há cartilha para a sua vida
Isso também é controverso. O que quero dizer neste tópico é algo como: viva conforme a sua realidade. Porém, isso é perigoso. Afirmar algo assim é complicado, visto que esse tipo de ideia pode facilmente ser distorcido em conceitos libertários como “viva do seu jeito” ou “faça o que você quiser”.
E esse tipo de ideia é complicado justamente pelo fato de que as pessoas, ao passo que aceitam que devem viver suas vidas conforme suas realidades, também tentam fazer de suas realidades algo que desfavorece a dignidade de suas próprias vidas — até mesmo em termos morais.
Obviamente, no final das contas, a decisão de como alguém irá viver só deve ser tomada pela própria pessoa. Ninguém deve ser forçado a viver de maneira X ou Y. Forçar só geraria mais revolta. Porém, vale aqui outro clichê: nem tudo o que lhe é permitido automaticamente lhe convém.
Mas então… como fazer para viver segundo a nossa realidade?
Quero trazer aqui um exemplo simplista para guiar nosso raciocínio.
Imagine que você cresceu com a ideia de que viver é: nascer, crescer alguns anos, estudar na escola, estudar para ingressar em uma faculdade, concluir um curso superior, estudar para passar em um concurso público, casar com alguém, ter filhos, criá-los, aposentar-se, viver mais uma ou duas décadas e, por fim, falecer.
Segundo esse exemplo, isso seria bom ou ruim? Obviamente, depende.
A questão é que, infelizmente, nem todo mundo tem aptidão para seguir esse script — ou mesmo sequer tem esse desejo. Então, eu pergunto retoricamente aqui: aquelas etapas devem ser o sentido da vida? Novamente, a resposta é: depende.
E vejam a sutileza aqui: muitas pessoas que rejeitam essas etapas para si mesmas talvez tivessem muito mais felicidade e satisfação pessoal ao executá-las; da mesma forma, pessoas que acham que seguir essas etapas traria felicidade podem hoje se encontrar infelizes.
Portanto, o sentido da vida é algo totalmente relativo.
Como viver?
Caramba, definitivamente esse é o tipo de pergunta que ninguém, em sã consciência, deveria responder. Pelo menos não de forma absoluta, até porque acabamos de aferir que a vida de cada pessoa é algo único e, por isso, requer formas únicas de execução.
Não tem como alguém, mesmo que seja o especialista mais renomado da psicologia, chegar até você e lhe dar uma receita adequada — mesmo que esse especialista saiba de todos os aspectos da sua vida — até porque, muitas vezes, até nós mesmos sequer conseguimos saber qual é a “melhor decisão” para algo que estamos passando. Portanto, a ideia aqui não é ter uma resposta direta para a indagação, mas sim entender o que pode nos levar a chegar à conclusão do que é mais adequado para nós mesmos.
De qualquer maneira, um exercício que vale a pena qualquer pessoa fazer é justamente experienciar coisas diferentes. Sim, ter a experiência de coisas diferentes vai expandir sua mente para ter muito mais contextos e alternativas para embasar seus próprios pensamentos.
Mas vale lembrar que isso, com certeza, só vai ser válido para alguém que definitivamente pensa sobre o sentido de sua própria vida. Uma pessoa que está feliz do jeito que está, definitivamente, não vai encontrar nenhuma serventia em sair da realidade em que vive para ter experiências com coisas novas. Novamente, é algo relativo.
Pare de se comparar
Isso deveria ser óbvio, mas algo que é muito comum hoje em dia — ainda mais com toda essa internet — é justamente o fato de as pessoas se compararem com outras. E não me entenda mal: as pessoas fazem esse tipo de coisa de forma totalmente inconsciente. Não é como se elas entrassem num Instagram da vida, olhassem alguma coisa e dissessem: “vou me comparar”.
Não. Isso é algo muito mais do nosso íntimo, do nosso subconsciente.
Eu consigo parar e afirmar isso “tranquilamente” porque eu sei bem como é. Isso é algo que eu já me flagrei sentindo. É um problema que a gente passa a desenvolver sem sequer perceber. Em algum momento, de repente, vemos que muitas coisas que aparecem na internet para nós começam a nos deixar com um certo desconforto, uma angústia ou algo parecido. E o problema disso? Com certeza é algo que turva a nossa mente, a nossa visão — sobretudo sobre nós mesmos, sobre a nossa própria vida.
Dessa forma, consequentemente, o sentido da vida que é adequado para nós pode ser suprimido pelas bonanças da vida pública de outras pessoas. Nós, humanos, somos facilmente comprados com a dopamina barata.
Parar de se comparar não é algo tão trivial de se fazer, mas é algo simples de começar. Se você observa isso, ou se passar a observar isso no futuro, aceite o problema. É clichê também, eu sei, mas aceitar que isso acontece com você é uma das formas de começar a superar esse problema.
Ao contrário do que muitos pensam, o abandono súbito das tais “redes sociais” não é algo que vai ajudar a resolver isso — salvo em casos realmente patológicos, nos quais os efeitos já começam a afetar o seu físico e/ou fisiológico. Porém, largar subitamente essas coisas só vai dar a falsa impressão de que você está bem, sendo que, na verdade, você só estaria bem por ter se afastado do problema. Seria um paliativo, não uma verdadeira superação.
“Ahh, mas é melhor paliativo que continuar no problema.” Definitivamente, isso aí vai ser tema para outra reflexão que quero trazer aqui depois.
E quanto a mim (Lucas)?
Como eu disse no começo, tenho pensado bastante sobre esse tema, aplicando muita coisa na minha própria vida. Tenho refletido sobre questões como: “Caramba, por qual motivo exatamente eu estou vivendo?” ou “Isso aqui realmente vale o meu esforço?”.
Obviamente, muitas dessas perguntas refletem bastante uma ansiedade ou mesmo uma pressa em alcançar algo — e a reviravolta aqui é justamente que, às vezes, a gente tem esse desejo sem nem sequer saber o que quer.
É uma baita reflexão filosófica profunda sobre o “eu”, mas vale a pena pensar. Afinal, eu hoje, mais do que nunca, entendo que não preciso “exatamente” de um objetivo final.
“Pera aí… tá me dizendo que você está abdicando de sonhos?” Não. Mas, quando a gente traça um objetivo muito distante ou tenta se enquadrar na tal “cartilha” que citei em um tópico anterior, tende a perder o controle de algo muito importante — tão importante quanto o objetivo em si — que é, nada mais, nada menos, o nosso presente.
Já pararam pra pensar que, independentemente do que aconteça, o que importa de verdade é o nosso presente? O nosso momento atual? Já pararam pra pensar que tudo o que vai existir no nosso futuro depende exclusivamente daquilo que está acontecendo hoje?
Pois bem, acredito que pensar dessa forma gera um certo alívio na ansiedade. Afinal, muitas vezes temos o medo, a agonia ou a pressa de precisarmos estar sempre fazendo algo que nos leve ao tal “objetivo final”.
Claro que não devemos abandonar sonhos — isso seria um erro, nos tornaria vazios. Porém, viver em função de coisas distantes demais não tem me parecido algo saudável.
Em vez de pensar que você quer estar rico durante sua aposentadoria, que tal pensar que quer ter 10 mil reais livres na sua conta em um ou dois anos? Nesse exemplo simples, dá pra ver facilmente que pensar em um prazo menor com certeza é algo que vai te fazer chegar mais perto do seu sonho distante — além de te ajudar a se concentrar melhor em alcançar essa “meta”.
É óbvio que existem muitas formas de se organizar em coisas assim; só dei um exemplo aleatório que envolve dinheiro, já que é mais fácil de imaginar. Mas esse tipo de pensamento vale bastante para muitas outras coisas que almejamos em nossas vidas.
“Viver o hoje”. Talvez esse seja o sentido da vida.