Um pouco sobre (a minha) Carreira

Um pouco sobre (a minha) Carreira

September 13, 2025

Nessa semana, aconteceram coisas muito impactantes no mundo e no Brasil também, e claro, pensei em escrever sobre cada uma delas. Ainda cheguei a escrever um pouco de pequenas reflexões sobre os acontecimentos do Nepal, porém, para deixar minha semana mais leve, vou preferir escrever hoje sobre outro assunto.

Depois de pensar um pouco, resolvi deixar registrado aqui um pouco da minha trajetória profissional e quero incluir também, além das coisas relacionadas à minha área de formação, aspectos de coisas que faço quase como “hobby”, pois as considero partes importantes da minha vida e que influenciam diretamente no meu bem-estar, assim como minha área de trabalho propriamente dita.

Mas antes de mais nada, preciso deixar um disclaimer: não quero que isso aqui se torne um guia ou um texto que sirva para que “outras pessoas se inspirem”. Lembro-vos de que é apenas um texto “documentando” algumas coisas da minha vida e que julguei interessante deixá-las públicas aqui, tanto para a minha leitura futura quanto para outras pessoas que queiram saber um pouco mais de mim nessa perspectiva.

Do que eu gosto?

Bom, acho que, para falar de uma trajetória profissional, sobretudo num sentido mais aberto e expandido, devo falar do que chamo de “gostos pessoais”. Afinal, normalmente, esses gostos e preferências são as coisas que, muitas vezes, guiam nossas escolhas.

No meu caso, desde que me lembro, sempre fui um menino que gostava de explorar tudo. Minha curiosidade sempre foi absurdamente grande. Se havia uma coisa, eu queria entender como tal coisa funcionava. Hoje, às vezes, fico refletindo:

“Caramba, será que era assim que os grandes inventores se sentiam?”

Obviamente, não estou me colocando no patamar de um Da Vinci ou de um Thomas Edison, mas definitivamente, por conclusão lógica, esses caras, no mínimo, sentiam essa ânsia também.

Ora, se alguém não tem gosto por explorar, descobrir, entender, conhecer, como exatamente esse alguém vai ser dito um “inventor”?

Gosto também de correlacionar esse sentimento com os grandes estudiosos. Pense, por exemplo, em Nicolau Copérnico, Isaac Newton e Albert Einstein. Imagine como a mente desses caras fervilhava por querer entender a natureza em volta deles! E não é querendo me gabar, mas, muitas vezes, desde criança até hoje, me sinto assim.

Grandes nomes têm hoje grande poder de inspiração, sobretudo para pessoas como eu, que têm essa ânsia por descobrir, criar, produzir, desenvolver. E cá estou eu, redigindo um artigo para meu próprio blog! Definitivamente, é essa ânsia posta em prática.

Como assim Farmacêutico?

Sim, não vou guardar o suspense. Literalmente, essa foi a minha área de escolha para me graduar. E digo isso porque reconheço a surpresa e o espanto que muitas pessoas têm quando revelo essa informação. Acho que isso se deve justamente ao fato de eu ser bem conhecido por lidar com outras coisas, enquanto não sou tão conhecido pela minha área de trabalho em questão.

Mas a decisão de estudar Farmácia foi algo interessante e, até hoje, fico pensando:

“Realmente era isso que eu queria?”

Ao que respondo a mim mesmo de imediato:

“Com certeza!”

Essas indagações vêm justamente do fato de eu gostar de coisas como desenvolvimento de software, música e arte digital, então o questionamento parece natural.

Porém, quero contar, mais ou menos, como exatamente minha decisão de estudar Farmácia aconteceu.

Escolher foi fácil

Por incrível que pareça, a decisão foi fácil. Porém, na época, a ideia era eu seguir com opções de graduações bem diferentes.

No início, quando comecei a aplicar em vestibulares — fossem eles o ENEM ou de outras instituições — minha escolha era clara: ou Medicina ou Odontologia, esta última como segunda opção.

Porém, sejamos justos: esses cursos são muito concorridos, e essa alta concorrência exige notas excelentes, que beiram a perfeição. E, quando se tratava de olhar para meu desempenho, eu definitivamente não tinha “chances” de conseguir competir por vagas.

Por incrível que pareça, nunca tive um desempenho muito bom em provas como as de vestibulares, mesmo tendo sempre sido bom na escola e considerado inteligente pela maioria das pessoas. Hoje reconheço isso bem, mas por um tempo, principalmente depois do ensino médio, houve muita cobrança comigo, e o principal cobrador era… eu mesmo.

Infelizmente, não foi fácil lidar com todo o reconhecimento que eu tinha e não conseguir passar numa simples prova. Isso me frustrou por anos. Ainda bem que hoje entendo melhor a mim mesmo. Já compreendo que a forma como eu me preparei para as provas não foi a correta, entre outros detalhes. Talvez a melhor estratégia de estudo que fiz na época tenha sido meus pais terem a sensibilidade de me matricularem em um desses cursinhos pré-vestibular.

Mas, mesmo assim, quando estou abalado por algo, normalmente minha tendência é me manter estável. Ou seja, na época não me desesperei, aceitei de bom grado a situação, apesar da frustração, e continuei fazendo o que estava ao meu alcance.

Depois de algumas tentativas, vi que seria impossível conseguir Medicina ou mesmo Odontologia. E foi nesse momento que tive um insight deveras interessante: ambas as opções eram da área da saúde.

Uau. Isso foi impressionante. Lembro da sensação até hoje. E entendo: pode parecer uma bobagem, pode parecer uma conclusão desprezível, mas, para mim, que deveria ter uns 15 anos, talvez, era algo que ainda não tinha passado pela minha cabeça.

Reconhecer isso foi interessante, pois naquele momento pude justamente ampliar minhas opções. E esse meu gosto pela área da saúde era de fato sincero, afinal, desde criança, sempre fui fascinado pelo ambiente hospitalar, bem como pelas coisas relacionadas a ele.

A partir daí surgiu a tal facilidade na escolha. Eu pegava as listas de opções de cursos, dava uma olhada na área da saúde e havia tantos itens! Eu ficava pensando comigo mesmo:

“Caramba, eu achava que existia só Medicina e Odontologia!”

Mesmo assim, lembro que não consegui muitas vagas com meu desempenho nos vestibulares. Porém, um dos cursos da lista me chamou a atenção: Farmácia.

Imediatamente ao ver isso, lembro que foi despertado em mim exatamente aquele sentimento de descoberta e exploração de que falei anteriormente. Foi um gatilho certeiro. Ainda mais quando me dei conta de que, seja na escola ou no cursinho pré-vestibular, muitas pessoas viam esse curso como algo “temido”. Foi justamente isso que chamou ainda mais a minha atenção.

Naquele momento, já estava basicamente decidido. Minha mãe também me falou do curso, perguntando o que eu achava. Ou seja, muitos fatores estavam me levando a essa escolha clara. Mas foi quando li sobre as atribuições que um farmacêutico poderia ter que minha decisão se concretizou.

Em praticamente todas as fontes que pesquisei na internet, falava-se que o farmacêutico poderia trabalhar com dezenas de coisas diferentes, desde drogarias comerciais até laboratórios e hospitais! Aquilo foi reconfortante, pois encontrei nesse curso exatamente o que eu sempre quis.

Enquanto eu achava que minhas aspirações só poderiam ser supridas pela Medicina ou mesmo pela Odontologia, foi nas atribuições do farmacêutico que percebi que estaria totalmente satisfeito profissionalmente através da Farmácia. Hoje, curiosamente, reconheço que eu me sentiria até mesmo um pouco “limitado” caso tivesse insistido na Medicina, por exemplo.

Outro detalhe sobre a graduação em Farmácia é que, pelo menos na época, não era um curso concorrido. Ou seja, poucas pessoas queriam estudá-lo e, consequentemente, a nota de corte era relativamente baixa. Mesmo assim, iniciar a graduação não foi trivial. No fim, não consegui uma vaga diretamente pelo ENEM, mas iniciei o curso de qualquer maneira por meio de um financiamento. Um ano depois, consegui ganhar uma bolsa totalmente gratuita através do meu esforço contínuo em melhorar no vestibular.

Como se tornar um profissional?

Ok, o título dessa seção dá a entender que vou escrever um tutorial, mas não é essa minha intenção. Se quiserem um único comando de instrução, a única coisa que posso dizer é que um profissional, seja em qual área for, jamais estará totalmente formado.

Obviamente, os papéis que dizem “você está formado”, “Você é um profissional” são, no fim, apenas papéis. E, quando falo isso, não posso deixar de referenciar um vídeo impressionante do Fábio Akita, em que ele literalmente pega vários certificados que tem e rasga todos eles! Se quiserem conferir, é este vídeo aqui na altura da minutagem 20:36:

Depois vou me aprofundar mais nessa coisa de programação, mas meu ponto aqui é que hoje entendo que aquilo que você aprende numa instituição — e que algum papel certifica — não obrigatoriamente prova que você aprendeu.

E claro, assim como o Akita fez com os certificados dele, eu também poderia fazer com meus papéis e certificados da graduação em Farmácia, certo? Certo?

Bom, isso é o que vou discutir a seguir.

O papel dos papéis

Uma coisa que aprendi ao me engajar mais a fundo na área de software foi justamente o fato de que, para trabalhar nela, você não é necessariamente obrigado a ter cursado uma faculdade. E sério, isso não é algo natural de se deparar, ainda mais para alguém como eu, que desde sempre entendeu que precisava estudar numa faculdade para poder ter acesso a exercer a própria profissão. Na verdade, talvez se eu soubesse que software não iria me exigir papéis da mesma forma que Farmácia, eu tivesse até mesmo focado mais nisso desde os meus 15 anos. Mas, se fosse o caso, talvez tudo na minha vida tivesse sido diferente, afinal nosso presente só é o que é devido ao que aconteceu em nosso passado.

De qualquer forma, quero trazer duas perspectivas aqui: tanto a do programador, que sempre soube que não precisa de faculdade para trabalhar, como também a das pessoas que sempre precisaram de uma faculdade para trabalhar.

A primeira coisa que precisamos entender é que, se compararmos duas profissões distintas, como, por exemplo, um farmacêutico e um programador, cada uma dessas profissões terá focos completamente diferentes. Isso é fato. E já quero deixar bem claro: nenhuma é mais ou menos importante que a outra. Ambas têm sua importância, bem como seus contextos.

Sendo assim, o objeto de trabalho de ambas é diferente. Enquanto na programação lidamos mais com o desenvolvimento de ideias e soluções por meio da tecnologia, na área da saúde nosso foco é a saúde, o acompanhamento e o bem-estar de humanos. Logo, sendo os humanos o foco da área da saúde, é totalmente compreensível que, legalmente falando, seja uma área com mais restrições de atuação, incluindo, por exemplo, a necessidade de elementos assertivos sobre a qualificação de um profissional, como certificados e diplomas.

Por outro lado, na área da programação, por não existir o foco direto na saúde das pessoas e por lidar com coisas mais abstratas, como produtos digitais, é totalmente compreensível que a comprovação seja feita por meio da demonstração de que alguém consegue, de fato, entregar resultados ou “provar que sabe” por meio da prática.

Sendo realidades diferentes, ambos os procedimentos não devem valer um para o outro. Portanto, é totalmente inviável que um farmacêutico como eu rasgue seus certificados e diploma. Para ser sincero, eu gostaria que fosse possível, até mesmo para me livrar de tanto papel em casa, mas definitivamente não posso. 🤣

Porém, a lição que fica neste ponto é: independentemente da necessidade do papel para cumprir alguma burocracia ou não, um profissional só será um profissional à medida que viver e agregar experiências do cotidiano de trabalho ao seu repertório pessoal de conhecimento. O conhecimento teórico proporcionado pelos certificados e diplomas não é suficiente.

Parece clichê, mas, como eu sempre digo, clichês são o que são justamente por serem validações lógicas e justas.

Pretendo deixar a Farmácia?

A resposta curta e grossa é não. Não é algo que pretendo deixar. E faço essa pergunta justamente pelo fato de que cada vez mais tenho gostado da ideia de também poder trabalhar com programação. Mas meu ponto é exatamente esse: vale a pena eu trabalhar com programação ou me sinto bem com isso apenas enquanto a trato como um hobby?

Para essa pergunta ainda não tenho resposta, mas creio que, com o passar do tempo, vou conseguir direcionar melhor minhas conclusões sobre isso tudo. No momento, quero poder me estabilizar mais. Ainda não tenho muitas coisas básicas, e a profissão de farmacêutico pode me ajudar com isso. Nessa caminhada, vou continuar buscando me aprimorar para ser um profissional melhor, seja por meio da absorção de mais conhecimento teórico específico (pós-graduações, mestrados), seja pela experiência cotidiana.

No momento em que escrevo isso, ainda tenho apenas 30 anos, pouco mais de 6~7 anos de experiência profissional na minha área. Quero ainda poder vislumbrar mais coisas. E claro, nada vai me impedir de continuar aprendendo. O dia tem 24 horas; se eu trabalhar 10 horas por dia como farmacêutico, vou poder tirar pelo menos umas 2 horas restantes para continuar aprendendo coisas novas na área de software. Claro que não vou aprender a rotina de trabalho de um programador da vida real, mas ainda assim quero continuar me aprimorando nesta área secundária.

Já implementei projetos de produtos e ideias da vida real para outras pessoas, mesmo não sendo um “programador”, então fico contente em poder usar o conhecimento que tenho para algo prático.

No futuro, quero poder incrementar este artigo com novas percepções sobre esses temas, para ver o quanto vou manter a mesma visão ou o quanto vou mudar de opinião. Até lá, vamos continuar evoluindo sempre.