O que as revoluções no Nepal podem nos ensinar
Alguns podem não estar sabendo, mas na semana em que escrevo esse post, num país chamado Nepal (que fica ali perto do Tibete, Índia e China), tem ocorrido uma crise absurda. E, por mais estranho que pareça, curiosamente eu tenho acompanhado esses acontecimentos de lá depois que uma página de humor e memes do Nepal, que eu curto no Facebook, começou a postar sobre isso.
Definitivamente, a página não está postando como “brincadeiras”, mas como posts sérios mesmo. Então, para mim, tem sido interessante poder acompanhar esses desdobramentos de um lugar tão remoto para nós, a partir de uma fonte real do local — não por uma “Rede Globo” da vida.
E, para resumir bastante, o que aconteceu lá foi algo que, inclusive, ocorreu recentemente aqui no Brasil: aquela velha discussão sobre “ser obrigatório uma empresa estrangeira ter sede aqui”. Ou seja, na realidade de lá, o governo começou a aplicar isso e, enquanto seu xilique — digo, suas exigências — ainda não tinham sido cumpridas, basicamente toda a internet foi interrompida, em especial as redes sociais WhatsApp, Facebook, Instagram e X.
Agora me permitam refletir sobre isso. Definitivamente, essa justificativa soa bonita somente para quem é apoiador de quem a está sugerindo.
Se você olhar para essa situação com olhos imparciais, vai perceber que, se um governo tem traços autoritários ou populistas, automaticamente vai enxergar em “tais medidas benevolentes” meios para controlar a informação.
E não digo isso como se fosse “teoria da conspiração”. Afinal, praticamente todos os governos do mundo hoje têm traços de autoritarismo e populismo. Governos querem se manter no poder. E perceba a sutileza aqui: eu falei poder. Dinheiro, para esses caras, definitivamente não tem mais valor do que o poder que eles têm nas mãos. Até porque, quanto mais poder tiverem, mais fácil será para obterem a quantidade de dinheiro que quiserem.
Agora reflita: hoje, no mundo, quais são bons exemplos de políticos, grupos políticos, partidos ou coligações que, ao perderem o poder, simplesmente “deixam pra lá”? É realmente difícil concluir isso, afinal, em todos os países vemos que, quando um desses grupos “perde”, ele definitivamente faz de tudo para “voltar ao poder”, seja tentando manobras, seja se mantendo “na disputa”. E mesmo que o rosto principal do grupo mude, o grupo por trás continua o mesmo.
Agora, se você pensar em “esquerda e direita”, definitivamente vai turvar seu pensamento crítico. Ambos os “lados” fazem parte do mesmo sistema.
Observem as atitudes deles, não o que falam. Afinal, falar coisas boas que as pessoas querem ouvir é um elemento típico do populismo. E sabe onde encontramos esse elemento? Isso mesmo: em ambos os lados.
No Brasil, essa dissonância cognitiva generalizada enfraquece os debates verdadeiros que deveriam estar acontecendo em prol de dar importância a um político de um lado que “você considera o certo”.
O Nepal hoje nos mostra esse exemplo: as pessoas não conseguem ser totalmente controladas, mesmo no período atual. A população não consegue ficar totalmente à mercê das decisões e omissões de um governo a partir de certo ponto. Nesse caso do Nepal, ao restringir a liberdade socio-virtual, o governo basicamente condenou seu próprio país a um colapso generalizado.
O colapso é o certo? Jamais. Se você pensa assim, cuidado: talvez esteja com a tal “dissonância cognitiva” em ação. O colapso generalizado no Nepal ocorre como consequência infeliz daquilo que o governo fez. Uma decisão que afeta diretamente a vida individual das pessoas infelizmente levou ao estopim.
Não importa se o governo do Nepal é “esquerdista” ou “direitista”. A questão é o que o governo faz em si, tanto explicitamente quanto por baixo dos panos.
Porém, é difícil nos darmos conta de muitas dessas coisas, já que o próprio governo “mina” nossa capacidade de criticá-lo, geralmente ao nos influenciar com as coisas bonitinhas que são faladas.
O exemplo do Nepal, infelizmente, é triste. As pessoas levaram o país a um colapso onde sequer a polícia existe mais. As pessoas são culpadas? Sim, mas não são as únicas culpadas, se é que me entendem.
Hoje, infelizmente, um país em que o governo tenha elementos de autoritarismo e populismo definitivamente vai estar sujeito ao que ocorreu no Nepal. Estados Unidos, França, Argentina, Brasil… são apenas exemplos de nações que demonstram os tópicos discutidos aqui.
Não queremos isso para o nosso país. Não queremos ser o próximo Nepal.
Que possamos exigir dos políticos que estão no poder (sejam eles quem forem) que façam corretamente o seu trabalho. Lembrem-se: os políticos são financiados por nós; logo, são nossos funcionários.
Que possamos ter a sensibilidade e o discernimento para lidar com essas análises enquanto estivermos livres de ideologias malditas e de pensamentos polarizadores. Que tenhamos nossa própria opinião imparcial.
O Nepal nos deixa um registro infeliz e de uma realidade horrível pela qual seu povo passou, mas que isso possa servir de alerta para todo o mundo: o povo tem mais poder que o governo.