Até que ponto sua (nossa) opinião importa?

Até que ponto sua (nossa) opinião importa?

August 1, 2025

Vamos começar com um exercício mental. Imagine que, num belo dia, você sai de casa e descobre que o que você mais defendia como opinião e preferência pessoais finalmente acontece. Imagine que você vê tudo acontecendo da noite pro dia e, como esperado, você se sente absolutamente bem.

Imagine que, nesse dia, você sai na rua e vê absolutamente todas as pessoas e tudo em volta perfeitamente compatíveis com aquilo que você mais pensava. Você sente uma paz suprema.

Passam-se os dias e, cada vez mais, você se regozija por aquela realidade, e você nem sequer sente a necessidade de se perguntar coisas como “como isso tudo pode ter acontecido?”

Os pensamentos e questionamentos sobre essa coisa bizarra nem sequer passam pela sua cabeça. Você cumprimenta aquela pessoa que, no Instagram, compartilhava coisas totalmente opostas ao que você sempre defendia, e a pessoa mansamente te fala:
“Caramba, como é bom ver que eu estive errado por aquele tempo todo. Agora sim estou feliz por ter visto a verdade!”

Você fica em choque com esse tipo de atitude, até porque não esperava isso vindo daquela pessoa com quem você debateu tanto no direct.

Curiosamente, você começa a perceber que, por mais que tudo esteja perfeito e maravilhoso, surge um sentimento de “espanto” na sua percepção. Mas você ignora, afinal, tudo está bom o suficiente para esse sentimento não significar algo.

Mas as coisas começam a ficar curiosas quando, depois de um simples mês, você não é contrariado de nenhuma maneira. Tudo ao seu redor continua perfeito, como no seu sonho mais utópico e, nesse momento, cada vez mais, você percebe que não está conseguindo mais deixar certos questionamentos de lado para saborear sua realidade perfeita.

“Caramba, como raios as coisas ficaram assim da noite pro dia?”, “Como que ninguém aqui sequer questiona a mudança repentina das coisas?”

De fato, você não consegue mais deixar de se fazer questionamentos e, quando chega um ano após aquele dia fatídico, você entrega os pontos e diz:
“Por que as coisas não podem voltar ao normal?”

Incrível que, por mais que a nova realidade fosse exatamente como você queria, ainda assim você percebe que faltava algo. Você jamais se considerou “do mal”. Você sempre defendeu a sua opinião, pois sabia que ela iria ser boa pra todo mundo, aquilo era o certo para todos.

Mas tudo está perfeito. Todos estão bem graças a você e sua opinião certeira, e você conclui que realmente tinha razão. A realização perfeita da sua opinião realmente fez com que tudo ficasse absolutamente perfeito. Mas por que você sentia que as coisas não estavam certas? Como você pôde desejar que as coisas voltassem a ser como eram antes?

Sua mente começa a ficar um pouco desgastada.


De fato. Esse exercício mental que eu propus aqui pode ser um pouco extremo, mas, por mais que seja meio clichê, ilustra bem que a perfeição absoluta, infelizmente, tende a não satisfazer a nossa mente humana.

Eu não tenho bagagem teórica e acadêmica pra trazer referências bibliográficas sobre isso, mas não preciso buscá-las para que vocês acreditem que esse tipo de coisa já foi muito discutido por pessoas intelectualmente capacitadas.

Porém, eu queria trazer essa reflexão hoje pra contextualizar uma coisa: a polarização que estamos vivendo não serve de nada.

Não acredita? Então raciocina um pouco: por qual motivo a tal polarização existe? A ideia dessa prática não seria, na prática, validar uma opinião pessoal a qualquer custo, em detrimento da opinião oposta de outra pessoa? Eu concluo que sim. Não haveria “polarização” se pessoas não desejassem impor suas opiniões e crenças a qualquer custo sobre as outras.

Óbvio que alguém pode tentar replicar isso com:
“Ah, mas quer dizer que não é pra ninguém ter opinião? Isso não seria justamente o que foi proposto no texto? Se ninguém tiver opinião, isso não seria o que aconteceria no experimento do texto?”

E, de fato, sim. Por incrível que pareça.

Mas, ao mesmo tempo, por que deveríamos associar automaticamente que o ato de não polarizar implica na necessidade de anular opiniões pessoais?

E talvez esse seja um dos pontos principais da reflexão. Uma coisa não deve anular a outra.

Quando falamos de polarização no contexto que estamos vivendo hoje, sobretudo no Brasil, parece que ocorre uma espécie de “dicotomia”. É como se, ao alguém falar algo, obrigatoriamente essa pessoa estivesse criticando o oposto. E, por mais que isso não devesse ser verdade, curiosamente vemos que é o que também acontece com muitas pessoas.

É interessante que essa dicotomia não deveria ser o cerne do problema, mas, ao mesmo tempo, ela, de fato, está presente.

Como lidar com isso?

Bom… gostaríamos de ter uma resposta assim, mas, novamente, somos levados ao exercício mental que propus no início. Se fosse o caso de sabermos lidar perfeitamente com um problema desses, o quão satisfeita nossa mente estaria? Num primeiro momento, talvez experienciássemos a felicidade plena, mas e tempos depois? Infelizmente, não temos respostas pra isso, por mais que achemos que tenhamos.

Agora, sua opinião realmente importa?

Eu poderia tentar responder com: se sua opinião é perfeita e deve ser seguida, então a minha também deverá ser seguida. Afinal, num mundo perfeito, independentemente de como ele seja, todas as pessoas são igualmente satisfeitas em suas plenitudes. Isso definitivamente deve implicar que cada um tenha sua própria opinião, incluindo, é claro, aqueles com opiniões opostas.

Obviamente, esse é um cenário impossível. É provavelmente fisicamente impossível que múltiplas opiniões sejam absolutas. Afinal, a própria ideia de que elas sejam absolutas invalida a existência delas mesmas. Definitivamente, um paradoxo sem solução “confortável”.

O que podemos fazer?


Eu normalmente gosto de usar a mim mesmo como objeto de pensamento para muitas coisas. Seja me vendo como alguém afetado por mim mesmo, bem como sendo alguém que traz benefícios a mim.

Pode ser meio confuso, mas esse é um ótimo exercício, afinal, muitas vezes, nós somos a nossa melhor referência para algo.

Dito isto, vamos tomar essa “técnica de autorreferência” como exemplo.

Se você observar, o próprio ato de eu escrever este texto me faz abrir a mente para muitas possibilidades que talvez eu sequer tenha cogitado. E eu definitivamente acredito que isso é uma boa coisa a se fazer.

“Mas espera aí, você tá dizendo que sua opinião é o certo? Tá dizendo que as pessoas deveriam fazer isso? A ideia não é que os pensamentos sejam coerentemente diferentes? Assim você está sendo incoerente!”

Se você se perguntou isso, perfeito! Até porque eu acabei de me perguntar o mesmo, inclusive escrevi ali em cima.

E o que fica de conclusão nisso? Bom, eu diria que o exercício de pensar se você realmente é absoluto em tudo já vale a reflexão.

Muitas vezes temos opiniões nas quais a gente julga fielmente que está certo. Nos revoltamos absurdamente quando essa opinião é ferida de alguma maneira e tendemos a defendê-la a qualquer custo.

Há também uma outra discussão que vou querer refletir em outros posts, que é: o que exatamente está no limite entre opinião, preferência pessoal e real necessidade? Essa discussão basicamente é “impossível” de resolver, mas falar disso é uma das melhores formas de se lidar com esse trilema.

Mas, se você quiser uma conclusão satisfatória para a minha reflexão, pensa o seguinte: o nocivo não é se sua opinião é boa ou não, mas sim o fato de que o desgaste de tentar impor isso a qualquer custo não é saudável, especialmente para nós mesmos.

Uma opinião sem uma reflexão justa por trás não passa de imposição. Uma opinião sem pensar no real impacto dela no sentimento de outras pessoas não passa de ditadura.

Opiniões pessoais e íntimas que permanecem no seu âmbito restrito só dizem respeito a você. Entretanto, ao passo que algo que você defende afeta outras pessoas, o simples fato de polarizar deve ser evitado ou, ao menos, feito à luz de uma reflexão saudável e altruísta o suficiente para considerar nossas próprias implicações diante de outras pessoas.

É meio chato eu dar um tom clichê de que “todas as opiniões importam e devem ser discutidas com sabedoria”, entretanto, é interessante ver que os clichês basicamente são o que são por algum motivo.

Em próximos posts, quero poder discutir temas mais ácidos e polêmicos, tendo como base minhas reflexões deste texto de hoje.

Nos preparemos, pois vou destilar toda minha ânsia sobre coisas que vão da polarização de religião à política. Yeahhh